Projeto-Piloto – 2022

As formações abrigadas no Projeto Futures Literacy para a Educação Básica são desenvolvidas em duas fases. A Fase I é voltada aos percursos formativos dos professores em duas perspectivas –  a Formação-investigação e a Futures Literacy – e culmina com a construção de projetos pelos professores, passando pelas seis etapas para construção de projetos de Letramentos em Futuros: think, define, gather, reflect, Analyse e act. Nesta fase, o curso é organizado em torno de dez unidades de aprendizagem, totalizando entre 20 e 40 horas presenciais e na modalidade a distância, nas quais procura-se fazer o levantamento das concepções do grupo sobre os desafios da educação contemporânea, as percepções sobre os documentos curriculares orientadores da educação nacional e local. A programação prevê um passeio pelos: (a) Referenciais curriculares para a Educação Básica: os velhos e os novos desafios da prática docente contemporânea; (b) Formação Continuada, em contexto, em serviço e a implementação da BNCC e Projeto Político Pedagógico da escola; (c) Dimensões da pesquisa-ação e as alianças para a formação-investigação em contextos educativos; (d) Temas emergentes para a atuação docente na educação básica: (1) As estratégias de aprendizagem ativa (PBL, Sala de aula invertida, design thinking, pesquisa em sala de aula, etc.); (2) O ensino híbrido; (3) As tecnologias na educação; (4) O Pensamento computacional na escola; (5) A interdisciplinaridade; (6) A Relação pedagógica dialógica; (7) A Educação intergeracional; (8) O empreendedorismo e a inovação na educação básica; (9) A educação do sentir; e (10) Metacognição; (e) Modelos mentais para percepção de futuros; (f) Futures Literacy para a educação básica; (g) Futures Literacy em seis etapas adaptadas para a educação básica; (h) Seminário reflexivo: Olhando o caminho feito: sínteses possíveis, anúncios necessários; (i) além de avaliação da Fase I do projeto e construção da metodologia e cronograma para envolvimento dos estudantes na Fase II:

A Fase II, é desenvolvida com a participação de professores e estudantes, vidando a construção de projetos de Futures Literacy a partir dos interesses, expectativas e necessidades das turmas onde ela ocorre, seguindo as seis etapas anunciada anteriormente. Podemos afirmar que o movimento protagonizado coletivamente testemunha uma formação continuada participativa, por meio da qual, todos os participantes são convocados a construir o processo e, verdadeiramente, a fazerem parte dele, responsabilizando-se pelo seu desenvolvimento e constituindo-se coautores nos resultados e pontos de chegada possíveis no tempo previsto no cronograma. Ademais, o conjunto das ações abarcadas no que designamos de processo de formação-investigação tem estreita sintonia com as abordagens que defendem o uso da pesquisa-ação na formação de professores, a exemplo das formulações de Franco (2014), bem como na legislação educacional voltada à formação de professores, no tocante à “formação em serviço na escola”, considerada como “a mais efetiva para melhoria da prática pedagógica, por proporcionar o acompanhamento e a continuidade necessários para mudanças resilientes na atuação do professor” (BRASIL, 2020, p. 4). Nas palavras de Franco (2014, p. 218), a pesquisa-ação em contextos educativos, em sendo pesquisa “implica construção rigorosa do conhecimento”, ao mesmo tempo que sendo formação “implica participação ativa dos sujeitos da prática”.

Neste tipo de formação, pontes com as estratégias de aprendizagem ativa, especialmente com a pesquisa em sala de aula como recurso pedagógico, podem ser estabelecidas e acionadas no enfrentamento dos desafios que emergem do cotidiano escolar. Consideramos que o trabalho com a pesquisa na escola, como atitude cotidiana, contribui para a constituição do professor reflexivo e pesquisador de sua prática (STECANELA, 2013, 2014, 2015, 2019, 2020, 2021). Nos dizeres de Roque Moraes (2007), entendida como um jogo de aprendizagem, a pesquisa em aula oportuniza outros cenários para o ensinar e para o aprender, tanto para os professores, quanto para os alunos. Trata-se de um jogo de linguagens, cujas regras implicam a participação e uma estreita articulação entre a fala, a escrita e a leitura. E esse jogo precisa dos parceiros, professores e estudantes, como referenda Pedro Demo (2007).

E o desenvolvimento da formação-investigação com base nos pressupostos da metodologia de pesquisa em sala de aula, envolvendo as etapas da abordagem Futures Literacy, visando o desenvolvimento de Futures Literacy, constitui-se numa mediação fértil para a transformação da realidade, acentuada pelo senso comum e, por vezes, pelas “culturas da reclamação” (STECANELA, 2018). Os resultados do processo de formação-investigação evidenciam as assertivas de Franco (2014, p. 231), pois “nem sempre a consciência acompanha a prática. Às vezes, essa consciência incomoda e preferimos não mexer nela”, a exemplo das percepções de alguns professores na reflexão final do projeto. A autora complementa atribuindo aos processos de pesquisa-ação a possibilidade de “colocar prática e consciência juntas, mutuamente se significando” (p. 232), pois “a pesquisa na prática docente pode produzir rompimentos nas concepções tecnicistas de docência, gerando a possibilidade de ressignificação das relações entre teoria e prática, o que pode tornar-se um movimento importante na luta coletiva por melhores condições de trabalho e para a reconsideração da importância do conhecimento produzido pelos docentes” (FRANCO, 2014, p. 232).

Olhando o caminho feito, nas sínteses possíveis e nos anúncios necessários, não temos dúvidas de elementos inovadores permeiam o percurso vivido na formação-investigação e se relacionam, principalmente: (a) à participação dos estudantes como coadjuvantes na construção e desenvolvimento da segunda fase; (b) ao desafio posto para a construção de projetos interdisciplinares, para além de cada componente curricular, envolvendo professores de diferentes disciplinas e atuando em diferentes anos; (c) a criação de uma cultura de sistematização da experiência, por meio dos registros do vivido e revisitação do caminho feito para o desenho do caminho a percorrer; (d) à aprendizagem de uma nova abordagem, a Futures Literacy, desenvolvida pelas orientações da pesquisa-ação numa perspectiva de formação-investigação, ou seja, consoante ao uso pedagógico da pesquisa na escola; (e) à um conjunto de rupturas com o conhecido, um conjunto de lacunas identificadas para motivar à mobilização para o saber mais, um conjunto de encontros com as buscas feitas. Por fim, destacamos as potencialidades no uso das Cartas de Aula para o registro do planejamento, numa narrativa conectada com os destinatários, cuja relevância associa-se às intencionalidades de promover o encontro e produzir os sentidos da experiência, em uma perspectiva de interatividade, afetividade e dialogicidade (STECANELA, PEDRO, 2019).